Processo eleitoral venezuelano é alvo de desconfianças de outros países. Votação está marcada para 28 de julho

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Foto: Ricardo Stuckert / PR.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (19) não ter razões para brigar com a Venezuela, com a Nicarágua e com a Argentina e que não cabe interferência no processo eleitoral de outros países.

Lula deu as declarações durante cerimônia de anúncio de investimentos em obras na Via Dutra e Rio-Santos.

Na avaliação do presidente, "todo mundo gosta do Brasil" e "o Brasil tem que gostar de todo mundo".

"Uma coisa que o Brasil tem que ninguém tem: não tem nenhum país do mundo sem contencioso com ninguém como o Brasil. Não existe", afirmou.

"Por que eu vou querer brigar com a Venezuela? Por que eu vou querer com Nicarágua? Por que eu vou querer com a Argentina? Eles que elejam os presidentes que quiserem. O que me interessa é a relação de Estado para Estado, o que que o Brasil ganha e o que que o Brasil perde nesta relação", completou Lula.

O petista fez os comentários um dia depois de o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que é candidato à reeleição, afirmar que pode haver "banho de sangue" e "guerra civil" na Venezuela caso ele não vença as eleições.

O governo brasileiro silenciou e não se pronunciou oficialmente sobre as falas controversas do mandatário venezuelano.

Desconfiança internacional

A Venezuela realiza eleições em 28 de julho sob desconfiança da comunidade internacional de que o regime de Nicolás Maduro não assegure votações livres e democráticas — o que contraria um compromisso formal assinado em outubro de 2023.

Seu principal concorrente, escolhido a partir de uma coalizão de partidos opositores, é o ex-diplomata Edmundo González.

Maduro concorre ao terceiro mandato consecutivo — o primeiro foi em 2013. González foi anunciado pela Plataforma Democrática Unitária (PUD) após Corina Yoris ter sido impedida de concorrer às eleições presidenciais.

Em março, a PUD declarou que o “acesso ao sistema de inscrição” da candidata não tinha sido permitido.

Antes, a opositora María Corina Machado, uma das favoritas a desbancar Maduro, havia sido afastada da corrida eleitoral pelo Supremo Tribunal de Justiça, alinhado ao governo chavista.

Em outubro, o governo Maduro e a oposição assinaram o Acordo de Barbados, segundo o qual haveria eleições democráticas na Venezuela.

Além do Brasil, ao menos 11 países manifestaram preocupação com as eleições (Estados Unidos, Argentina, Colômbia, Chile, Equador, Costa Rica, Guatemala, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai).

Criticas à ausência de Tarcísio

Lula voltou a afirmar que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi convidado para o evento e não compareceu. O presidente afirmou que, passadas as eleições, as autoridades devem governar juntas.

"Ele é convidado em todas as vezes que eu venho a São Paulo, eu o convido. Ele tem a liberdade de ir ou não ir. Eu espero que ele um dia decida começar a mostrar para o povo que a gente pode ser adversário, que a gente pode ter disputado eleições, mas, quando termina as eleições, nós temos que governar. E temos que governar junto com todo mundo", disse.

Na sequência, Lula ironizou os investimentos em obras da gestão de Jair Bolsonaro, de quem Tarcísio foi ministro da Infraestrutura. Segundo Lula, o governo anterior fez poucas obras de infraestruturas em quatro anos.

"Vou começar a oferecer prêmio para quem achar uma obra", disse Lula.

Infraestrutura

Lula elogiou o formato da operação que viabilizará melhorias na Via Dutra e na Rio-Santos (BR-116) executadas pela CCR, que administra o trecho.

"Quando a gente vê uma empresa aceitar fazer o investimento, como a CCR está fazendo na Dutra, a gente é obrigado a dizer de que, Haddad, cada vez menos quem sabe a gente vá precisar de dinheiro do orçamento público para fazer as obras de infraestrutura desse país e, muito mais, a gente conquistar confiança", afirmou.

A CCR receberá ao longo de sete anos R$ 10,75 bilhões em crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

A operação incluiu a emissão de debêntures incentivadas do BNDES, no valor de R$ 9,41 bilhões, além de R$ 500 milhões em debêntures verdes e crédito direto de R$ 1,34 bilhão.

Burocracia 'manda no país', diz Lula

Lula defendeu mais agilidade nas decisões e execução de projetos. Ele afirmou no discurso que a burocracia "manda no país"

"O cara de terceiro escalão se tiver que assinar um papel guarda na gaveta, e o presidente fica esperando", disse.

O petista afirmou que "quisera Deus" que as profissões fossem iguais a de políticos, porque é necessário ser avaliado pela população nas eleições de quatro em quatro anos.

Críticas à privatizações

Lula também participou em São José dos Campos (SP) do anúncio de financiamento do BNDES às exportações da Embraer.

O presidente agradeceu a Deus pela privatização da empresa não ter sido concluída em governos anteriores e criticou a venda de outras empresas públicas, a exemplo da Vale e da Eletrobras.

"Uma nação tem que ter valores. A moeda é um valor, a bandeira é um valor, a nossa cultura é um valor, mas as empresas também são um valor. A Petrobras é uma empresa de um valor inestimável para quem orgulho de ser brasileiro", disse Lula.

"A Vale era um motivo de orgulho extraordinário porque a Vale era uma empresa muito importante quando era pública. Privatizaram a Vale. Alguém sabe quem é dono da Vale hoje? Ninguém. A Vale é uma empresa hoje pulverizada por centenas de fundos. Se você quiser falar com a Vale não tem um dono", acrescentou.

Lula criticou novamente a empresa por conta das indenizações para as vítimas do rompimento das barragens em Mariana e Brumadinho.

"A coisa é tão descabida que até hoje [a Vale] não pagou a indenização de Mariana e Brumadinho com o estouro de duas barragens. E quando você vai conversar ninguém manda, porque quem manda mais tem só 5%. As pessoas estão lá muito mais para vender dividendos, vender ativos da empresa do que para construir uma coisa grande", disse.

Viagem ao Peru

Lula informou que irá à reunião do Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), grupo que reúne 21 economias, entre as quais, Estados Unidos e China. A cúpula de líderes está prevista para novembro no Peru.

Apesar de o Brasil não ser banhado pelo oceano Pacífico, Lula disse que irá ao encontro discutir o projeto da Rota da Seda executado pelo governo chinês e que pode viabilizar o escoamento de produtos por rodovias e ferrovias entre o Atlântico e o Pacífico.

G1.
 

Jornalista | Palestrante | Assessora de Comunicação | Consultora em Gestão de Crise de Comunicação | Apresentadora de rádio e televisão.

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